terça-feira, 6 de setembro de 2011

Entrevista: Margareth Boury

Margareth Boury está no ar escrevendo a versão brasileira da novela “Rebelde”, na Record. É uma das autoras de novela que sempre prioriza o diálogo com o jovem, seja nas telinhas, seja fora dela. Muito simpática, nos concedeu essa entrevista, falando de sua carreira e, claro, de “Rebelde”.


Qual sua formação profissional? O que você aconselharia a um aspirante a autor (independente do veículo ou gênero) para ler, estudar e ver?
Eu fiz faculdade de jornalismo, mas nunca fiz uma entrevista ou escrevi uma matéria. Meu pai sempre foi de televisão, eu cresci indo ver gravação, naturalmente me interessei pelo assunto antes dos dezoito anos. Comecei como atriz, mas logo vi que eu era um fiasco! Escrever sempre foi divertido. Optei pela escrita aos 24 anos e nunca me arrependi. Autor é como uma antena parabólica imensa: a gente precisa ver quase tudo (o quase é porque não dá tempo de ver tudo), ler quase tudo. Sem preconceito, sem juízo de valor.

Quais são as influências literárias, teatrais e cinematográficas em sua escrita?
Na literatura? Puxa, muita gente. Eu leio muito e sem parar. Vou de biografia à romance água com açúcar – como eu disse, sem juízo de valor e sem preconceito. No Teatro eu gosto dos autores nacionais, mas como só tenho uma peça escrita e encenada, acho que nem teve influência.Cinema eu adoro Woody Allen, Almodóvar, Catherine Hardwicke(o filme Aos Treze foi marcante na minha dela e ela dirigiu), Julie Taymor (alem de outros que eu gosto, ela dirigiu Across The Universe, paixão!) e tem muitos outros, mas vou ficar com esses que representam um universo que eu amo.

Como se deu a transição de sua carreira de atriz para escritora?
Foi total falta de talento pra ser atriz, detectada pelo meu pai. E foi ele também quem sempre soube que eu escrevia melhor do que atuava. Mas eu fiquei uns seis meses perdida: queria ser atriz e recebi convite pra escrever. Como eu estava grávida do meu segundo filho, achei mais prudente escrever Caso verdade. Fiz um quase de brincadeira, uma comédia. Deu certo. O Mario Lucio Vaz me chamou e me contratou.

Ao longo da década de 1990, você trabalhou como colaboradora de alguns autores (Carlos Lombardi, Marcílio Moraes, por exemplo). Há algum tipo de influência que você consegue detectar deste período?
Sim! Claro! Primeiro do Lauro César Muniz, que me deu vários pulos do gato na carpintaria de novela. O Lombardi é especial, porque eu trabalhei com eles muito tempo e aprendi MUITO também. Os dois são passionais, devotados e foi ótimo aprender com eles. No detalhe: com o Lauro eu soltei a veia romântica. O Lombardi me passou a visão mais engraçada da cena. Não é só isso, mas isso resume.

Como colaboradora, você escreveu as novelas “Despedida de Solteiro”, “Malhação”, “Uga Uga”, “Kubanacan” e a minissérie “O Quinto dos Infernos”. Qual desses trabalhos tinha realmente a sua cara? Em qual deles você mais se divertiu escrevendo? Por que?
Ah, sem duvida nenhuma todas as que eu fiz com o Lombardi foram divertidas. Mas Uga Uga foi especial, marcou definitivamente a minha maneira de escrever: diálogos rápidos, muita coisa acontecendo e romance sem pudor algum.

Você é filha do diretor de televisão e de novelas Reynaldo Boury. Houve influência da parte dele para você atuar nessa área? O que aprendeu, profissionalmente, com o seu pai?
Como eu já disse, meu pai me deu toda a força do mundo para escrever. Aprendi a ler texto de novela com ele, ia com ele ver gravações. Ele foi um mega professor.

O tráfego de profissionais entre emissoras dos países da América hispânica é muito maior do que os países de língua portuguesa. Entretanto, em 2009, a Televisão Pública de Angola exibiu a novela “Minha terra minha mãe”, uma produção nacional com texto seu e direção de seu pai, Reynaldo Boury. Como foi a experiência? De que forma surgiu a ideia? Qual foi o resultado da produção? Quais dificuldades (e que tipo de pesquisa) você encontrou ao desenvolver uma sinopse e capítulos sobre um país estrangeiro?
Por partes, como diria Jack: eu escrevi Três novelas para Angola. A primeira foi uma adaptação de um romance de um autor angolano. Meu pai foi chamado para dirigir lá, precisava de texto, ele me chamou e foi uma experiência muito boa. Depois de uns quatro anos, eles voltaram a nos procurar com a idéia de fazer uma novela gravada aqui no Brasil, mas em estúdio, como se fosse em Angola – a televisão não tem estúdios e então vieram atores pra cá, Rio de Janeiro e foi feita Minha Terra, Minha mãe. O argumento era de um grupo de escritores angolanos e eu acrescentei algumas coisas, personagens, na verdade. Eu tinha um consultor para revisar o texto dos angolanos – pois tinha brasileiro e angolano na trama. A dificuldade é a de sempre: sentar na frente do micro e fazer escaleta, depois os diálogos... ah! Sim, a novela foi um sucesso em Angola.

Você foi roteirista do seriado “A diarista”, com grande sucesso com o público. Porém, não há uma tradição realmente forte no Brasil em seriados (talvez, a modalidade mais desenvolvida aqui seja justamente a sitcom). Como você avalia este trabalho? Dentro de sua experiência, há algum caminho para se construir um estilo brasileiro de seriados?
Eu gostei muito de escrever “A Diarista”. Estava saindo de Kubanacan, e essa novela deixou todos nós exaustos. Foi uma delícia escrever menos e ter mais tempo para pensar nas tramas. Eu acho que a gente pode fazer seriado, sitcom, o que for. O que precisa é investimento na área e isso, uma pena, não tem mesmo. A novela é longa e se paga, todo mundo já sabe disso. Eu sou uma viciada em seriado, vejo quase tudo e morro de inveja! Mas eu prefiro os sérios, ou os do tipo House e Castle, que tem humor na medida certa.

Você é uma das poucas autoras da televisão que privilegia um diálogo direto com os jovens em suas tramas. Atualmente, o que é o jovem brasileiro para você? Como você busca o diálogo com este adolescente do século XXI? Em sua opinião, há uma boa representação deles na TV? E as novas tecnologias, como elas são absorvidas (ou integradas) pela TV para que se aproxime dos jovens?
O jovem é sempre muito inquieto, adora uma novidade exatamente uns dez minutos. A gente tem que ficar ligada pra não perder o ritmo com eles. Eu procuro ficar atenta nos sites (face, twitter, Orkut) e interagir com eles. Essa garotada sabe o que quer e precisamos escutar. Eu tento. 

Sabemos que os jovens atuais estão cada vez mais precoces, fumam, bebem, não saem para tomar um suco de acerola no Gigabyte, como é mostrado em “Malhação”, por exemplo. Você acha que é possível ter um diálogo real com os jovens atuais diante da censura da classificação indicativa? A classificação indicativa acaba alienando a sociedade?
Olha, que eles estão bebendo muito, fumando muito e usando muita droga todo mundo sabe. Mas quem escreve, quem faz a novela (seja Rebelde, Malhação ou qualquer outro produto voltado para os jovens), não tem como driblar a classificação, que é muito subjetiva também. Os autores acabam levando a culpa de uma coisa que absolutamente não é nossa: eu adoraria ver o jovem agindo na TV como ele age na vida. Era uma maneira de alertar a família, de dar um cutucão de realidade na galera. Mas não rola. E sim, eu acho que acaba alienando. É como você ter um filho e não falar jamais dos defeitos dele, não enxergar que ele os tem e que você pode fazer alguma coisa: nem que seja pagar uma terapia.

Muitos profissionais da televisão (não só autores, como diretores, atores e especialistas) apontam que a telenovela precisa renovar o seu quadro de autores para diversificar e arejar o gênero. Para você, de que maneira é possível fazer esta associação entre experiência e novidade?
O que eu acho mesmo é que o público odeia novidade. Se a gente sai um pouco do eles conhecem, eles rejeitam. Para renovar, é preciso arriscar. 

Ao entrar na Record, por volta de 2006, você encontrou um mercado de trabalho aquecido para os autores de TV. Cinco anos depois, você tem alguma avaliação de como estão as oportunidades para autores, veteranos e novatos? Quais as vantagens, para você, de concorrência tão forte entre Record, SBT e Globo?
Olha, depois de mim, a Record investiu em outras pessoas e continua investindo em autores novos. Eu acho a concorrência fantástica, o mercado fica mais aberto e todo mundo consegue um lugarzinho ao sol.

Sua primeira novela como autora-solo foi “Alta estação” (2006). Gostaria que você nos contasse como surgiu o convite para a Record, como nasceu o projeto da novela e quais experiências você guarda deste trabalho.
Eu fui na Record chamada pelo Hiran Silveira. E fui para fazer novela pra um púbico jovem. Comecei a desenvolver “Alta Estação” só depois de ter sido contratada. A Record, na época, queria “pegar” o público jovem e me encomendou uma sinopse aberta. O titulo era “E Aí?”, virou “Alta Estação” depois de aprovada – o que, diga-se de passagem, é super normal de acontecer em qualquer emissora (mudar o nome). Na época, a novela sofreu muito com mudança de horário e algumas outras coisas que não vem ao caso agora. Mas eu guardo boas lembranças da novela: meu filho decolou como ator e recebeu um prêmio; conheci gente que até hoje freqüenta a minha casa e serviu pra conhecer meus erros.

A novela “Rebelde” apresenta um texto bastante ágil, um elenco fortemente jovem e uma edição diferenciada. Quais são os seus objetivos com esta novela? Houve alguma dificuldade na adaptação do original mexicano (lembrando que a versão da Televisa foi muito bem aceita pelo público brasileiro)?
O objetivo é sempre fazer uma novela de sucesso, ter seu trabalho reconhecido e trabalhar cada vez mais. Eu não tive dificuldade pra fazer a adaptação. Medo sim, dificuldade, não. 

Quais as principais mudanças da versão brasileira de “Rebelde” e a original?
Aqui tem mais personagem fora do colégio, tem a Vila Lene inteira. E como faz tempo desde que a versão mexicana foi ao ar, tem muita coisa nova: lá era jornal, aqui é twitter. Lá tinha conflito religioso (um judeu e uma católica), aqui isso não existe. O núcleo aro descendente nosso é forte – lá não tinha. E vai por aí...

Como você monta sua equipe de colaboradores e como é a divisão de trabalhos entre vocês durante a escrita dos capítulos?
Eu trabalho com pouca gente. Prefiro. Faço a escaleta (que é o capítulo sem o dialogo). Assim que termino a cena escaletada, escrevo as iniciais de quem vai fazer os diálogos da cena. Mando para os colaboradores. Eles tem um prazo pra entregar as cenas. Quando chegam, eu junto às minhas e reviso o capítulo todo. E começa tudo de novo.

Você mantém um blog na Internet, apesar de estar sem tempo para atualizá-lo. Como é o seu diálogo com seus leitores?  Quais são os prós e contras de se estabelecer uma ligação tão estreita entre você e o internauta que te acompanha?
Pois é, ando sem tempo mesmo de atualizar o blog, que eu comecei de farra e foi ficando gostoso de fazer. Agora nem vejo, tem muita gente que usa o blog pra pedir emprego, pra pedir foto dos atores e eu não posso fazer nada! Fico chateada, porque eu gosto de interagir com quem vê a novela.

O que você achou do blog NaTV? Algum recado para os leitores?
Vocês são ótimos. Sempre leio o blog. Recado? Sou péssima nisso, mas vamos tentar: divulguem, leiam, prestigiem esse povo que trabalha pra vocês conhecerem um pouco dessa loucura deliciosa que é a televisão.

(por Beatriz Villar)

Fonte: www.natvcritica.blogspot.com











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